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Planeta dos Macacos (Franklin J. Schaffner, 1968)



“- Se a vida fosse uma game boy, e os gêneros cinematográficos fossem pokemóns, eu teria um Sci-fi level 50. :)
- Isso foi só pra dizer que você gosta de ficção científica, cara?
- Foi.
- (suspiro).”

Gente... No domínio da sétima arte, quantas obras de ficção científica nós conhecemos que, surgidas na década de 1960, continuaram ganhando sequências, refilmagens, séries de Tv e prelúdios até os dias atuais?

Apenas duas me vêm à mente: Star Trek e Planeta dos Macacos, que, além do que já foi listado, deram origem à desenhos animados, HQs, jogos de videogame, action figures, artigos para festas de aniversário de criança, idiomas e paródias pornô. Franquias de sucesso? Fenômenos culturais? Arautos da Felicidade? Sim, sim e depende.

Devido ao fato das narrativas já adotarem o fantástico como premissa, muitas vezes situando os eventos em planetas distantes, universos paralelos e dimensões alternativas, a ficção científica acaba sendo um terreno perfeito para se discutir questões controversas, sem que a obra pareça controversa. No entanto, dizer que Planeta dos Macacos é um exemplar apenas de ficção científica, oculta suas tantas outras possibilidades enquanto uma obra que transita por vários gêneros. Portanto, que tal classificá-la como uma aventura sci-fi político-existencialista? Acho de bom grado.

Há quem diga que é um filme sobre como o Charlton Heston consegue passar dias correndo seminu, sendo constantemente surrado por gorilas, sendo queimado, quase lobotomizado, quase castrado e quase morto. É uma sinopse justa, mas prefiro imaginar que se trata da estória de um grupo de cosmonautas que numa missão de busca por novos mundos, caem num planeta desconhecido habitado por primatas, tal como o nosso, a diferença é que lá as espécies dominantes são outras. Lá os seres humanos são subjugados pelo poder de Gorilas, Chimpanzés e Orangotangos, que exercem as funções de militares, cientistas e burocratas, respectivamente.

Dessa forma, pode-se considerar que a função do ser humano, nesse planeta estranho, é a de ser escravizado? Enquanto membro da espécie que, no nosso planeta, se crê dominante, eu diria que não. Afinal, não é assim que a minha espécie percebe a relação com as outras, por aqui. Nunca vi se referirem aos pássaros presos em gaiolas, cujo alegre canto embala a alvorada, nem aos bois, vacas e afins que deliberadamente se confinam em currais, para nos servirem de almoço quando naturalmente chegam ao fim da vida, e muito menos aos macacos, ratos e cães, que nesse momento estão numa jaula de uma indústria cosmética ou farmacêutica qualquer, onde trabalham testando os efeitos colaterais das novas fórmulas a serem lançadas no mercado, como escravos. Estes são animais domésticos, gado e cobaias, respectivamente. Não é?

Saindo da Terra, e voltando ao planeta “?” , tal como fez o Charlton Heston, cuja presença nessa missão, como ele mesmo diz, se deve à certeza de que “deve ter algo melhor que o ser humano em algum lugar”. Se ele encontrou, só o filme pode nos dizer. Mas é perceptível a natureza escapista da sua empreitada, sua insatisfação com o seu próprio mundo, em seu próprio tempo. Sim, tempo. Não bastasse uma viagem interplanetária, trata-se também de um salto temporal. Algo relacionado a estar viajando na velocidade da luz, teoria da relatividade, coisas assim. Mas para poupar-lhes da explicação(?) mais detalhada que é dada no início do filme, o que acontece é que enquanto apenas 6 meses se passaram para nossos amigos da espaçonave, o universo do lado de fora envelheceu 2 milênios. Absurdo? Não. Sci-fi? Sim.

Vale lembrar, que em La Planète des Singes (1963), romance do Pierre Boulle que apenas 5 anos mais tarde seria adaptado para o cinema, a sociedade distópica em que aterrisamos é tecnologicamente semelhante à contemporaneidade dos realizadores. Há helicópteros, prédios e primatas trajando terno e gravata, ou seja, coisas que não caberiam no modesto orçamento de um filme cujo sucesso não era tão dado como certo pelos executivos da Fox. A alternativa foi destecnologizar(!) o planeta dos macacos que nos chega às telas, tornando o cenário um pouco mais parecido com o nosso mundo antigo do que com o pós-guerra.



A impressão que se tem, é que estamos diante de uma obra que além de provar não ser datada, pode ser apreciada a partir de diversas perspectivas. Posso assistir a Planeta Dos Macacos, como eu assisto aos filmes do Indiana Jones, gente correndo de um lado pro outro, descobertas arqueológicas, o herói que passa por apertos o tempo todo. Assisto também como eu assisto a Lost, sim... Lost, com suas teorias malucas, conspirações científicas, viagens temporais e realidades alternativas. E quando se fala das questões existenciais e sociais que o filme discute? Teria que fazer um post inteirinho só sobre elas.

Além disso, se permita ver o trabalho fantástico que foi feito com a maquiagem do filme, ultrapassa com folga muita computação gráfica dos anos 2000. E, aprovado o primeiro capítulo, recomendo que confira as sequências dos anos 70 para compreender melhor esse universo. Em especial, A Fuga do Planeta dos Macacos (1971), o filme-chave para entendermos os eventos que se desenrolaram durante esses 2000 anos em que a tripulação da Icarus esteve cruzando o espaço sideral. Particularmente uma das melhores sequências de filmes hollywoodianos, numa das mais fantásticas franquias da indústria do cinema.

“O homem é o lobo do símio, que é o lobo do homem, que é o lobo do símio... e por aí vai.” 
- Thomas Hobbes (numa realidade alternativa).

Sinopse
George Taylor (Charlton Heston), um astronauta americano, viaja por séculos em estado de hibernação. Ao acordar, ele e seus companheiros se vêem em um planeta dominado por macacos, no qual os humanos são tratados como escravos e nem mesmo tem o dom da fala. 

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